Vistas do Espaço, Convento da Madredeus da Verberena, Outubro 2021

 



O espaço é o lugar do convento. O tempo é o do edifício no seu estado
delével. A matéria remete para o corpo da construção: os materiais, os revestimentos, os ligantes, os contrastes e as texturas, as dicotomias interior/exterior.


Espaço, tempo, matéria é uma exposição coletiva pensada para o Convento da Madre de Deus da Verderena. O Convento franciscano é a premissa e o contexto da mostra. O tema, sem ser uma limitação, são todas as variáveis que um edifício como este encerra: o lugar, a história, a memória. O resultado do processo imersivo dos artistas- em jeito de residência e em gesto de exercício de imaginação - são as intervenções site-specific que compõem a exposição.

Para os 14 artistas presentes, o campo comum das intervenções são, portanto, a relação/correlação, ou em certos casos, a disrupção entre as três variáveis que formam o título da exposição: espaço, tempo, matéria.

O Convento, projetado como casa para a vida monástica, assenta sobre os alicerces da ordem franciscana. Uma ordem cujos princípios fundadores estão intrincados com os valores de simplicidade, austeridade e verdade. A arquitetura, seguindo os mesmos cânones, é desenhada sem ornamento, feitios ou frisos, privilegiando soluções económicas e utilitárias. Nos espaços estão implícitas as formas depuradas, embora toscas, sinónimo da humildade construtiva.

Com a extinção das ordens religiosas, o Convento foi adaptado a morada de veraneio, tornando-se palco da vida social, familiar e doméstica.

A este respeito, a ligação entre esses dois tempos, ocorre-nos como metáfora a imagem que Christopher Alexander usa em Pattern Language para descrever o fenómeno de aproximação ao mar, seguido do acto de contemplação – the monk’s house. A casa do monge, tradução literal, é uma construção no topo da montanha que permite a leitura única do mar, projetado ao longe. A casa é um artifício num jogo de esconder e desvelar a linha do horizonte. O horizonte, ora se deixa ver entre os muros e as paredes rudimentares, ora é oculto pela silhueta da casa. Para Alexander a experiência plena na paisagem (o ato de contemplação) não é no vértice da montanha, mas sob o abrigo da casa do monge, olhando por uma pequena janela que se abre ao exterior. A paisagem ganha um significado irrepetível no abrigo, uma vez que só a arquitetura, como ação humana sobre a natureza, resgata do desconhecido, proporcionando ao homem o controlo do meio para uma envolvente habitável.

A experiência do espaço do convento não é muito distante dessa noção de interior, de interior doméstico, com gradientes de privacidade ao exterior (deva dizer-se a propósito da arquitetura, que quando esta é plena tem a capacidade de gerar o interior no próprio exterior). Se fizermos um exercício de abstração, imaginando a envolvente do convento apenas com campos de vegetação rarefeita, a paisagem dos rios Coina e Tejo emerge. O Convento seria esse lugar no ermo, fechado ao exterior, cirurgicamente rasgado para receber luz, como unidade de acolhimento e abrigo destacado da natureza.

É pertinente esta imagem de interior/exterior e de gesto de contemplação/introspecção por estar diretamente relacionado com o processo dos artistas. As peças são atos isolados de desvelar ou trazer o interior do artista para o revelar ao exterior. O processo criativo e produção não é assim muito diferente de um momento subjectivo de procura de verdade e claridade; ou de distinção entre sombra e luz, de oculto e de sagrado em arquitetura. Wim Wenders no roteiro para o Estado das Coisas (Der Stand der Dinge, 1982) escreve a determinado momento que "a natureza, e tudo o resto, resume-se a luz e trevas. Tudo é luz e trevas. Sombras e luz. A única forma de pintar isto é pôr as luzes contra as trevas".


Martinho Costa é talvez do conjunto dos artistas o mais convencional, não no resultado, mas no uso da pintura como media. As peças são pinturas que se assemelham a fotografia, ou fotografias que se expressam como tela e pincel. Para o Claustro, Martinho propôs um friso anacrónico de imagens de pequeno formato, que ganham múltiplos significados. Em Conservação e Restauro seria semelhante a abrir uma janela temporal nas paredes, em pintura são trompe l'oeil da constituição e fisionomia do Convento, já em fotografia são detalhes de patologias com recurso a uma lente close up.

CMB 1744, 2021 óleo s/tela 30x40 cm


 

CMB 3 Pedras, 2021 óleo s/tela 30x40 cm


 

CMB Altar 3, 2021 óleo s/tela 30x40cm


 

CMB Altar 2, 2021 óleo s/tela 30x40cm


 

CMB Altar, 2021 óleo s/tela 30x40cm


 

CMB Cunha 1, 2021 óleo s/tela 30x40xm


 

CMB Cunha 2, 2021 óleo s-tela 30x40xm


 

CMB Duas Cadeiras, 2021 óleo s/tela 30x40xm


 

CMB Falha, 2021 óleo s/tela 30x40cm


 

CMB Holofote, 2021 óleo s/tela 30x40 cm


 

CMB Janela, 2021 óleo s/tela 30x40 cm


 

CMB Manchas, 2021 óleo s/tela 30x40 cm


 

CMB Pedra, 2021 óleo s/tela 30x40 cm


 

CMB Pes 2, 2021 óleo s/tela 30x40 cm



 

CMB Pés, 2021 óleo s/tela 30x40 cm


 

CMB Sombra Exterior, 2021 óleo s/tela 30x40 cm


 

CMB Sombra Interior 2, 2021 óleo s/tela 30x40 cm


 

CMB Sombra Interior 3, 2021 óleo s/tela 30x40 cm


 

CMB Sombra Interior, 2021 óleo s/tela 30x40 cm


 

CMB Tecto, 2021 óleo s/tela 30x40 cm


 

CMB Vitrine, 2021 óleo s/tela 30x40 cm